Arquidiocese de
Vitória da Conquista

/
/
/
Roda de Conversa sobre os Impactos das Chuvas na Região da Lagoa das Flores

Roda de Conversa sobre os Impactos das Chuvas na Região da Lagoa das Flores

Testde de legenda

No dia 26 de março de 2022, no Salão Paroquial da Paróquia Bom Jesus na Lagoa das Flores, em Vitória da Conquista aconteceu a Roda de Conversa promovida pela Arquidiocese de Vitória da Conquista que teve como tema: Os impactos das chuvas em Lagoa das Flores e Itpirema. Coordenado pelo Padre Fillipe Gomes, o evento contou com a participação do Arcebispo Metropolitano, Dom Josafá Menezes, com o Diácono Luciano Lima e com a professora Rozinélia Macena, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB e ainda representantes das diversas regiões, bairros e localidades que compõem o espaço territorial em questão.

Às 14:30h, iniciou-se a Roda de Conversa com a fala de boas-vindas do Padre Fillipe que ressaltou a importância de ações como esta, diante da situação em que se encontra a população atingida pelas chuvas e alagamentos ocorridos em dezembro de 2021. A seguir, passou-se a palavra para o Arcebispo Dom Josafá Menezes que discorreu sobre o tema: A importância da escuta. E para tanto, iniciou relatando a sua experiência com as cidades próximas ao Rio Pardo, vítimas dos alagamentos de dezembro de 2021, quando para ali se dirigiu, a fim de se inteirar daquela realidade. Segundo o arcebispo, este teria sido o momento no qual se tomou a dimensão da gravidade do problema dos alagamentos.

Ainda, segundo o Arcebispo Metropolitano de Vitória da Conquista, constatou-se que ali naquela região já havia um contexto estrutural bastante negativo que foi desconsiderado pelas autoridades e que, certamente, teria agravado a destruição que se deu com a vida das chuvas de forma tão intensa. Ele destaca a construção de barragens sem critérios de engenharia adequados, a existência de vias e estradas sem a devida assistência técnica, como também a falta de conscientização das pessoas diante do fato de que a realidade das chuvas e alagamentos é continua e que fatos trágicos como os que ocorrerem em dezembro de 2021, poderiam se repetir. E, por fim, destaca a ausência do Poder público, nas suas diversas instâncias, que não parece estar muito atento às carências e necessidades da população.

Continuando sua exposição, Dom Josafá diz que o propósito desta roda de conversa é o de ouvir as pessoas atingidas, evidenciar a situação em que se encontram após os alagamentos e buscar possíveis soluções. Lembra que este contato com as pessoas atingidas possibilitará que se leve às autoridades as necessidades e os pleitos das pessoas. Para Dom Josafá, ali reunidos, estariam todos mobilizados, conversando e juntos. E que assim sendo, certamente, poderiam transformar aquela realidade. Finaliza, destacando que ali se ocorreriam encaminhamentos, e que este momento poderia ser definido como: “Enchentes em Lagoa das Flores e Itapirema, conversas, escutas e soluções”.

Discorrendo sobre o tema: A importância de sermos cidadãos ativos e conscientes, o Diácono Luciano Lima assume a palavra, lembrando a gravidade da situação em que se encontram os moradores das localidades atingidas pelo alagamento, uma vez que as dificuldades se agravam por falta de solução, ficando a pergunta: “E agora?”. Segundo o diácono, a primeira atitude é que as pessoas se reúnam, se encontrem e busquem as soluções e destaca o dito popular: A união faz a força.

O diácono Luciano segue com sua fala, afirmando que vivemos em um país democrático que possui uma Constituição Federal que nos impõe deveres, mas que também nos garante direitos. E que para alcançar estes direitos, a comunidade precisa organizar-se e buscar coletivamente as soluções para os problemas. Destaca que as instâncias governamentais e de Estado devem agir na construção de soluções, mas é necessário que as pessoas também se organizem para isto, saindo do individualismo e munindo-se do espírito de solidariedade. Lembra que a comunidade mobilizada tem a capacidade de sensibilizar aqueles que estão no poder e que podem gerar soluções.

O Diác. Luciano Lima segue, salientando que a Igreja assume seu papel de escuta, de promotora da cidadania, demonstrando grande poder social e de fé. Neste compromisso junto a seu povo, evidencia alguns aspectos relevantes que são pilares de sua ação junto à sociedade como: a promoção da justiça e do direito que evidenciam seu compromisso com a salvação do mundo. Assume ainda seu papel de porta-voz do seu povo, fazendo soar os lamentos. E por fim, a Igreja traz uma mensagem de esperança que passa por nossas mãos, quando seguimos juntos.

Discorre sobre o comprometimento do Papa Francisco, na sua ação evangelizadora conectada com a realidade social de seu povo que salienta a necessidade de responder com dignidade aos apelos da população, no tocante ao acesso à terra, teto e trabalho. E realça o seu desejo de que este encontro traga frutos para o povo desta região de Lagoa das Flores e Itapirema e lembra a todos a importância de se manter sempre um olhar atento uns para com os outros, pois este encontro será pois, um novo passo para a melhoria da vida de todos.

A roda de conversa prossegue em sua dinâmica. A engenheira agrônoma e professora da UESB, Rozinelia Macena dá continuidade às falas, a partir do tema: Aspectos geográfico dos distritos e segurança hídrica. Inicia, relatando ser a Lagoa das Flores o território escolhido para sua especialização, evidenciado sua afetividade com este lugar. Afirma que a água da Lagoa das Flores é de muita qualidade, mas que as pesquisas apresentam, infelizmente, altos índices de resíduos prejudiciais como os coliformes fecais. Descreve a realidade dos reservatórios de água construídos pelos moradores que não seguem as recomendações de especialistas na área e acabam por desestabilizar o solo desta região. Afirma que, segundo sua pesquisa, em 2018, já haviam 132 fontes de água nestas condições na região da Lagoa das Flores.

Prossegue a professora Rozinélia Macena, discorrendo sobre outro agravamento, no tocante à preservação dos recursos naturais da região de Lagoa das Flores que é a falta de cuidados adequados com o solo, surgindo uma grande quantidade de latossolo que ela caracteriza como um solo velho, desgastado pelo uso contínuo. Lembra que há que se utilizar o solo e os demais recursos naturais, mas com cuidados, conhecendo-os e promovendo a sua conservação. A professora continua, destacando a necessidade de se cuidar da segurança hídrica para que se tenha água disponível com qualidade para uso e que o crescimento rápido de fontes de água em condições inadequadas pode comprometer este uso no futuro próximo.  

Rosinélia Macena alerta ainda para outro perigo constante na região que é a construção de fontes e reservatórios de água próximos às fossas. E conclui, exortando a todos a uma ação que leve em conta o conjunto da área territorial produtiva de Lagoa das Flores, salientando que o descuido com a natureza inexoravelmente se voltará contra a humanidade.

E assim, o evento chega ao momento da partilha e relato de experiências com a participação de moradores da região em discussão. Fala então a senhora Maria da penha da Fazenda Paixão que relata a dor de ver os vizinhos perderem suas casas; as consequências dos alagamentos, tais como: infecções e demais doenças, mortes, casas caídas e a falta de ação eficaz do poder público municipal. Informa que as pessoas vítimas dos alagamentos, ainda não puderam entrar em suas casas e que as chuvas acabaram com hortas, muitos ainda não tiveram condições de voltar a trabalhar em suas terras. Lamenta que a haja uma proliferação de moscas devido a lama que permanece nestas localidades. E lembra que somente unindo forças, seja possível dar dignidade a todos.

Senhora leda da Chácara Guarani relata que houve grandes perdas como as duas oficinas de seus familiares. Denuncia a falta de ação do poder público e salienta que não há como a população se restabelecer sozinha e expressa seu desejo de que este encontro seja uma ponte para se chegar às pessoas que podem resolver a situação em que se encontram.

O senhor Derivaldo Silva de Itapirema afirma que há muitas dificuldades que as soluções não chegam e que houve visitas das autoridades apenas no período chuvoso, mas que depois nada houve.

O senhor Robson também de Itapirema relata as dificuldades com a alimentação da família. Diz que as cestas básicas doadas não atendem a necessidade.

A senhora Norma do Povoado do Choça, agradece a ação do Arcebispo Dom Josafá e do Padre Fillipe. Relata que, por ocasião dos alagamentos ela assumira a liderança em muitas ações com os desabrigados. Diz-se indignada com o apego de algumas pessoas responsáveis pelas doações com as cestas básicas que chegaram com muito custo, mas que não foram suficientes.

O senhor Valdomiro comove ao dizer: “Eu perdi tudo, só não perdi o amor de Deus.” E segue, expressando a dor das perdas vividas por sua família e por sua comunidade.

A senhora Dêni fala da solidariedade entre vizinhos no período em que se deu os alagamentos e relata sua dor. Solicita que se arrume a rua e o bairro, porque houve muita destruição.

O senhor Tiago do Povoado do Choça caracteriza o povo da sua região como acolhedor, solicita mais atenção das autoridades e agradece a ação da Igreja.

O senhor José apresenta-se como pastor evangélico relata a perda do filho e denuncia que alguns agentes públicos assumem o discurso de culpabilidade dos moradores atingidos pelo alagamento por terem construído suas casas na baixa. E relata a falta de ajuda social.

Um outro morador encaminha como sugestão a solicitação de sessão itinerante da Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista com a presença de representantes da Igreja para tratarem desta situação.

Então, é convidada a senhora Maria do Socorro Pereira Soares Santos, professora da rede estadual de ensino para fazer a síntese das falas da mesa constituída nesta roda de conversa. Encaminhando para o final, o Padre Fillipe retoma a palavra, afirmando que aquelas falas não serão em vão. Diz que as chuvas e os alagamentos serviram para escancarar muitos problemas que já existiam anteriormente e destaca que se cada um ficasse em sua região, não seria possível ampliar as reflexões e promover a partilha das dores. Expressa então o desejo de que esta tarde mostre a todos a importância de se buscar soluções coletivas.

Retorna o diácono Luciano Lima para os encaminhamentos e este destaca que as pessoas devem se reunir, a partir deste encontro, de forma mais sistemática. Lembra que as reinvindicações dos moradores são de direitos básicos e que ninguém deve se conformar com a falta de soluções. E ficam definidos alguns encaminhamentos. A saber: Organização da comunidade local, identificação de lideranças entre eles, criação de conselhos comunitários organizados, acionamento do Ministério Público e a formação urgente de comissão com ampla representatividade para que se mobilizem de maneira organizada.

Concluindo, cria-se a comissão que ficará responsável pelos encaminhamentos, mobilização da população, preparação da documentação, registro dos principais problemas e definição de instâncias legais que precisam ser acionadas. Estabelece-se a data de 02/04/2022, no Salão Paroquial da Igreja de Bom Jesus, a partir das 15 horas para a primeira reunião desta comissão aqui constituída.

O Arcebispo Metropolitano, Dom Josafá Menezes, exortando a todos a ação e à esperança, conclui com a oração e bênção.

Compartilhar:

Tags:

Notícias em Destaque