Diante da necessidade de renovação na Igreja, o papa João XXIII deu início ao Concílio Vaticano II em 1962. O primeiro documento conciliar discutido e aprovado foi a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium – sobre a Sagrada Liturgia da Igreja. A Sacrosanctum Concilium abriu novos horizontes para uma reflexão bíblica e teológica acerca da liturgia, do lugar e função do cristão leigo, da centralidade de Jesus e do Mistério Pascal nas celebrações. Esse documento propõe, ainda, fomentar sempre mais a vida cristã a fim de que os fiéis participem de forma plena, consciente e ativa nas celebrações (cf. SC, n.14).
Hoje em dia, em nossas comunidades, o maior desafio é ajudar aos fiéis a criarem consciência de que liturgia não é mero cumprimento de normas e regras, mas abrange a totalidade do mistério (sacramentum) que a comunidade – por força sacramental – vai celebrar, ou seja, é a atualização e celebração do Mistério Pascal de Jesus Cristo (Paixão, Morte e Ressurreição). E, por conseguinte, a nossa participação dentro desse mistério, pois movida pela fé a comunidade é continuadora da mensagem de salvação anunciada por Jesus e do Reino (Reino de Deus) por Ele iniciado. Portanto, “É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’ (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5); (Sacrosanctum Concilium, nº 14)”.
A função primordial da Liturgia é o de fazer com que uma verdadeira dialética ocorra permanentemente na Igreja para que se realize e conserve o grande encontro entre o povo e Cristo, a fim de que a Liturgia aconteça em seu sentido pleno e cumpra a sua missão de modo que Deus em Cristo santifique o homem e o homem em Cristo preste um culto de louvor e ação de graças a Deus. Para que esse encontro aconteça de forma integral na vida da Igreja, o Concílio Vaticano II destaca que a vivência e a experiência da assembleia na liturgia devem ser sustentadas pela participação total da pessoa em todo o seu ser, unindo assim seu corpo e seu espírito, sua mente e seu coração com todos aqueles que celebram, de modo que a celebração não seja formada por vários indivíduos, mas sim por uma comunidade, formando um só povo, o povo de Deus.
Participar exige disposição e comprometimento. Para que a participação seja plena, não basta que o indivíduo esteja presente na celebração de forma física. A plenitude se dá, sobretudo, pela doação total e em perfeita sintonia com aquilo que se é celebrado. Quando se celebra, não é apenas o ministro ordenado (bispo, presbítero, diácono) que age, mas toda a comunidade celebra como um organismo vivo e pulsante. Com efeito, a participação na Liturgia só será plena, ativa e consciente se for verdadeiramente comunitária. Assim sendo, para melhor promover a participação ativa dos fiéis, é fundamental que se favoreça para que se tenham aclamações do povo, salmodias, antífonas ou refrãos, cantos, ações, gestos, postura, e os momentos do sagrado silêncio.
Por isso, queridos irmãos e irmãs, devemos valorizar o verdadeiro exercício da fé e da dignidade batismal. A exemplo de um corpo sadio que precisa que todos os seus órgãos trabalhem de forma harmoniosa, na Liturgia, também é necessário, que todos os fiéis estejam presentes de corpo e espírito nas celebrações. Se assim o fizermos, certamente os frutos irão aparecer em nossa vida: frutos de conversão, de alegria, de comprometimento, de fraternidade.
Seminarista José Victor Guimarães Assis
2° ano da teologia – Etapa da configuração